segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Estamos perto? Por Carlos Lula


Atendi o telefone e minha esposa falou do outro lado: “Lula, 78% de eficácia!”. Demorei alguns segundos para assimilar do que se tratava, estava em mais um das dezenas de reuniões diárias. Quando a ficha caiu, não foi fácil segurar a emoção. Naquela pequena frase, um país inteiro carregado de esperança. Era o que eu precisava e ela, que me conhece tão bem, sabia disso.

Pensei de imediato nos meus filhos, no cuidado que tive por eles ao longo de todo este tempo. Pensei na minha mãe, nos meus irmãos, pensei em todos os profissionais de saúde da nossa rede que estão diariamente, há meses, lutando em seus postos de trabalho contra o vírus. 78% de eficácia significa que a luta acabou? Certamente que não, mas significa que estamos perto. Este horizonte é o que nos motiva para seguir nessa árdua jornada em direção a uma solução definitiva para a crise do coronavírus. Para que o horizonte siga perto, precisamos seguir caminhando para frente.

Continuamos arregaçando as mangas para fazer a diferença na maior crise sanitária mundial devido à pandemia da Covid-19. O nosso interesse é de que toda e qualquer vacina a ser oferecida à população brasileira o seja por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI). A vida de mais de 212 milhões de cidadãos, distribuídos nos 5.570 municípios brasileiros, que sofrem os efeitos da pandemia em nosso país dependem da execução de um plano coerente e assertivo. Os tempos difíceis persistem, mas precisamos de caminhos claros. 

Há um contraste visível entre a aceleração da pandemia e a morosidade na tomada de decisões das autoridades da União, realmente difícil de entender.  Para começar, é importante saber que o Ministério da Saúde, é claro, tem o seu papel de coordenador do PNI e no combate à Covid-19 – o vírus avança no território nacional e a doença continua acometendo cada vez mais os cidadãos. 

A doença já atingiu mais de 7,8 milhões de pessoas e 200 mil vidas foram perdidas para Sars-Cov-2 em nosso país. Pessoas com comorbidades são as mais vulneráveis. Os prejuízos desta pandemia notadamente não são apenas econômicos e sociais. Diante essa realidade, é inaceitável o país não ter ainda sequer a data de início da vacinação contra o coronavírus. Não faz sentido. Contudo, esta é a ponta do iceberg. 

O Maranhão respeita e reconhece o Ministério da Saúde como coordenador do Programa, e aguarda a divulgação oficial da data de início da campanha. Em paralelo, iniciamos em dezembro o diálogo com laboratórios e fabricantes das vacinas a fim de tornar evidente o nosso interesse na aquisição de imunizante para o estado. A aquisição inicial de 200 mil doses da Coronavac, por meio do Instituto Butantan, já foi assegurada. Além disso, temos reserva técnica de seringas e agulhas para a primeira fase da vacinação contra a covid-19. Também há um processo para aquisição de mais seis milhões de seringas e agulhas, apesar dessa obrigação, a princípio, ser do Ministério, não dos estados. De todo modo, estas são atitudes complementares, tomadas inclusive por outros estados, em virtude de um cenário de incertezas que se estabeleceu no federalismo brasileiro por ocasião da descoordenação de políticas públicas. 

No intuito de corrigir isso, nos adiantamos dentro daquilo que é possível, oferecendo o diálogo institucional necessário que a circunstância demanda e buscando alternativas viáveis, para que a angústia dos maranhenses seja atenuada.

Do ponto de vista da nossa estratégia, temos um plano de ação pronto. Distribuição do imunizante para as 18 unidades regionais da Redes de Frio em até três dias por transporte aéreo. Com isto, todos os municípios receberão o imunológico por meio do transporte terrestre com vans refrigeradas, já em funcionamento nas unidades regionais de saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão.

O enfrentamento da pandemia não é uma empreitada corriqueira, de qualquer forma. A única saída é construir alternativas. Cerca de 44 países já iniciaram a imunização contra a Covid-19. Hoje é possível enfrentar este desafio com uma arma poderosa de contra-ataque, mas há que se saber usá-la. Vamos começar a vacinação muito tarde e estamos em um momento crítico. Não temos mais tempo para a politização da vacina. A vida de milhares de brasileiros depende disso.

Quero muito em breve retornar à ligação para Juliana, ouvindo a voz ansiosa de João e Ana Júlia ao fundo, trazendo boas novas. Dizendo-lhes sim que estamos perto, que estamos conseguindo, que nosso esforço coletivo, meu deles e de toda a nossa equipe, deu resultado. No fim das contas, é o que importa: cuidar de quem amamos. Confesso que onde estou, vejo os maranhenses como parte dessa enorme família que tenho. Quando o primeiro idoso se vacinar em nossa terra, já aviso: vou me permitir chorar. Nunca estivemos tão perto de por fim a esse imenso pesadelo.

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