Foi realizada nesta segunda-feira (2), no auditório Fernando Falcão, da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), em São Luís, a sessão solene em alusão à campanha Junho Laranja, que este ano chamou à atenção para a gravidade das queimaduras associadas à violência de gênero. Organizado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio do Hospital da Ilha, em parceria com a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), o evento teve como tema central “Violência contra a mulher: Marcas no corpo, feridas na alma”, com foco especial na prevenção, acolhimento e denúncia de casos de agressão.
Representando o governador Carlos Brandão, o secretário da Casa Civil, Sebastião Madeira falou da importância do tema. "A gestão estadual tem se empenhado em várias frentes para melhorar o atendimento à população, principalmente no que diz respeito ao combate à violência e ao tratamento de vítimas de queimaduras. A instalação da unidade de tratamento especializado e a implementação de tecnologias de ponta, como a câmara hiperbárica, representam um avanço importante, alinhado à visão da administração em proporcionar atendimento digno e eficiente à população", disse Madeira.
O secretário de Estado da Saúde, Tiago Fernandes, reforçou o compromisso da rede estadual com o atendimento humanizado e o enfrentamento à violência de gênero. “A Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) tem sido um pilar fundamental no atendimento às vítimas de queimaduras. Uma média de 80 mulheres foram atendidas. O mais alarmante é que, dessas 80 mulheres, 4 em cada 10 são vítimas de feminicídios, um dado inaceitável que reforça a urgência de conscientização e empatia no tratamento dessas vítimas. O cuidado na UTQ vai além da recuperação física, é um trabalho integral, que envolve também a qualificação contínua dos profissionais e um atendimento humanizado. A Secretaria de Saúde segue comprometida em melhorar ainda mais a rede de saúde, com o apoio de todos, para além de tratar feridas, curar histórias”, afirmou Tiago Fernandes.
A campanha deste ano faz um alerta: A violência doméstica tem deixado marcas permanentes no corpo e na vida das mulheres, muitas vezes por meio de queimaduras. Para a presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Kelly Danielle Araújo, é essencial que o debate sobre o tema seja ampliado.
"Pesquisas recentes em centros especializados apontam o crescimento desses casos, especialmente envolvendo feminicídio e autoextermínio. É um recorte necessário, pois muitas dessas mulheres sofrem anos de violência silenciosa até que a agressão atinja o corpo. Trazer esse debate à tona é dar voz e força para que elas rompam o ciclo ”, evidenciou Kelly.
Também participaram do evento o vice-presidente da Alema, o deputado estadual Antônio Pereira; a secretária de estado da Mulher, Abigail Cunha; a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Susan Lucena; a promotora de justiça de Defesa da Saúde Glória Mafra; a vereadora de São Luís, Tayanne Evangelista; o presidente da Emserh, Marcello Duailibe; o presidente da SBQ Maranhão, Antônio Luiz Moreira; a presidente da Associação Maranhense de Sobreviventes de Queimaduras (Amasc), Andreia Barbosa e Audréia Noleto.
Vítimas
Entre as mulheres atendidas os dados são alarmantes. Foram 32 casos de tentativas de morte violenta: 13 feminicídios (41%), 14 tentativas de autoextermínio (44%) e cinco homicídios (15%). Também foram registradas queimaduras por atrito em dois casos. Os números reforçam a urgência de discutir a violência contra a mulher a partir das marcas físicas e emocionais que esse tipo de agressão deixa.
De maio de 2023 a maio de 2025, a UTQ atendeu 360 pacientes – 201 adultos e 159 crianças. Entre os adultos, 59% eram homens e 41% mulheres. As queimaduras térmicas foram as mais comuns entre adultos (70%), enquanto que entre crianças predominaram os escaldamentos (53%). Ao todo, foram registradas 290 altas hospitalares nesse período.
A diretora-geral do Hospital da Ilha, Carol Hortegal, destacou o avanço representado pela criação da UTQ no estado e a importância de dar visibilidade às mulheres vítimas de violência. “Antes, nossas pacientes precisavam ser transferidas para outros estados. Hoje temos uma estrutura de excelência. O Junho Laranja é um marco para reafirmar nosso compromisso com a saúde e com a prevenção de novos casos. As mulheres continuam sendo as mais atingidas, muitas vezes em silêncio, e precisamos enfrentar isso com seriedade," alertou a diretora.
UTQ Hospital da Ilha
Instalada em 2023 no segundo andar do Hospital da Ilha, a Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) é a primeira do tipo no estado. Conta com 19 leitos, sendo dois de isolamento, além de estrutura especializada com sala de balneoterapia, cinesioterapia e oxigenoterapia hiperbárica. A unidade oferece tratamento completo com equipe multiprofissional, permitindo que pacientes maranhenses não precisem mais sair do estado em busca de atendimento.
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