domingo, 25 de outubro de 2020

Por que ser contra a vacina?, por Carlos Lula

 


Mais de 1,1 milhão de pessoas morreram da COVID-19 no planeta. No Brasil, a média móvel de óbitos fica próxima a 500 casos a cada 24 horas. Para vencer esta crise sanitária, laboratórios de todo o mundo há meses buscam um meio para imunizar a população e, enfim, evitar que outro milhão de pessoas percam suas vidas para a SARS-CoV-2.  

Afinal, que outro mecanismo de defesa temos contra o vírus?! A máscara, os hábitos de higiene pessoal e a etiqueta respiratória auxiliam na prevenção, mas não impedem a contaminação. Com a ajuda da ciência, sabemos que a vacina é a melhor das respostas contra o coronavírus, visto que até agora nenhum medicamento se mostrou eficiente. Cabe, então, aguardar a vacina que sempre foi uma grande aliada para vencer tantas doenças. Mas nos esquecemos rápido dessas vitórias, não é mesmo?

É preciso olhar para a história para entender a importância de uma vacina. Somente em 1980, após sucessivas campanhas de vacinação, foi possível erradicar a varíola, que assombrou e assolou, sobretudo a Europa, a partir do Século XVIII. A febre amarela, tão conhecida recentemente em razão de um novo surto no país, fez milhares de mortos por aqui nos inícios dos anos de 1900. A vacina eficaz chegou 37 anos depois.  

Com a pandemia, muitos estudos têm sido realizados para descobrir uma vacina imunizante ou medicamento eficaz contra a COVID-19. Os avanços significativos da ciência no Século XXI, as ferramentas aprimoradas e, sobretudo, as trocas de informação com maior agilidade são as razões para se estar tão perto de criar uma vacina em tão pouco tempo.

Imaginemos que, cem anos atrás, o tempo hábil para desenvolver uma vacina, a tecnologia e a velocidade da informação necessária para que tivéssemos essa solução definitiva seriam muito maiores do que temos hoje. A pergunta a ser feita é outra: a vacina é eficaz? É segura? Esta são as respostas que o mundo espera. 

E, no Brasil, nenhuma vacina sem eficácia comprovada, que não tenha passado por todas as fases de teste, pode ser utilizada. Não há razão, portanto, para desconfiar dessa forma do conhecimento científico. 

Todos viram a polêmica a respeito da tal “vacina chinesa”, cuja compra foi proibida pelo Presidente da República na última semana, em decisão intempestiva e equivocada. Bem, se você pensa que a vacina seria produzida na China, você já foi enganado. A vacina seria produzida no Instituto Butantan, aqui mesmo no Brasil, de quem o Ministério da Saúde compra milhões de doses de outras vacinas, todos os anos. Como disse Margaret Harris, porta-voz da OMS na última sexta-feira, “não é sobre nacionalidade da vacina, é sobre ciência”.

Há de se destacar, inclusive, o erro absurdo da imprensa brasileira de continuar a chamar a CoronaVac, de “vacina chinesa”. Curioso que não vemos nenhum destaque para “vacinas inglesas”. Por que nominar assim apenas a CoronaVac?

Bem, desde o início da pandemia, toda desconfiança foi voltada à China. Absurdas teorias da conspiração chegaram a atribuir a criação do vírus SARS-CoV-2 em um laboratório chinês e sua disseminação com o propósito de contaminação global. Quem não já ouviu falar da Covid-19 como “vírus chinês”, no lugar da Covid-19? Puro estigma e preconceito. Qualquer vacina em escala global passará necessariamente hoje pela China, mesmo a de inglesa de Oxford, porque dali precisa tirar os insumos necessários para sua criação. Este debate, no momento em que nos encontramos, é infértil.

Então há motivos de desconfiança para a vacina do Butantan? Nenhum. A mesma pesquisa realizada no Brasil ocorre simultaneamente na Indonésia e na Turquia. A última e mais importante fase do estudo sobre a CoronaVac está em andamento. Resta, então, aguardar. Se a eficácia for comprovada, caberá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com os resultados em mãos, registrar a vacina. Com segurança, eficácia e sem receios. 

Qualquer decisão de um gestor público tem de se pautar na necessidade de imunizar no menor tempo possível a maior parcela da população. As razões meramente eleitorais e políticas que levaram o Governo Federal a rejeitar a vacina produzida em São Paulo, uma vez que o Governador do estado é seu opositor, não são as razões de alguém preocupado com a saúde da população. A sociedade brasileira merece outra postura por parte dos nossos governantes, uma vez que politizar a vacina serve a propósitos pouquíssimos republicanos.

Diante da omissão e da lamentável postura da União, por mais uma vez, os estados da federação já estudam ir ao Supremo Tribunal Federal para garantir a mais rápida imunização da população. Esta deve ser e tem sido, incansavelmente, nossa única preocupação. 

No final de contas, se a vacina virá da China, Rússia, Alemanha ou Estados Unidos pouco importa. A última resposta será dada pela ciência, que está há meses buscando uma resposta contra a COVID-19. Quando o momento chegar, o Sistema Único de Saúde terá motivos científicos para que toda a população tenha acesso garantido gratuitamente à vacina nos postos de saúde de todo o país. Queira ou não o Presidente da República. A ciência caminha independente da nossa vontade, ainda bem!

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