terça-feira, 2 de outubro de 2018

AUTONOMIA, por Carlos Lula


O palestrante Nick Vujicic, 35 anos, australiano, conhecido por ter nascido sem pernas ou braços, em razão de uma doença rara chamada de síndrome de Tetra-amelia, fez sua carreira ensinando pessoas ao redor do mundo a enxergarem além de suas limitações. Segundo ele, “deficiente não é quem nasceu sem pernas e braços, e, sim, aquele que tenta fazer algo e não consegue”. Certíssimo, Nick!

Um acidente, uma anomalia genética, uma síndrome diagnosticada ainda no ventre, a falta de uma vacina, o envelhecimento do nosso corpo. O que poderia nos tornar deficientes? Estamos suscetíveis a tantas intercorrências na vida. Somos frágeis demais, nem nos damos conta, até sermos surpreendidos, impedidos de realizar algo.

Imagine uma mulher surda. Ela precisa dar à luz, mas sente complicações. Como se comunicar, como explicar? Até pouco tempo atrás ela tentaria explicar por meio de algumas mímicas desesperadas o que se passa. Não era totalmente seguro. Por isso, ao formar profissionais de maternidades públicas em interpretação de Libras, essa gestante terá muito mais garantia de seu atendimento. Não se sentirá limitada por sua surdez, mas estará segura da assistência que receberá.  

Algumas deficiências são nossas, precisamos nos adaptar, por isso, este ano, formamos mais de 130 profissionais de maternidades, hospitais e UPA de São Luís, por meio do Saúde em Libras. Este projeto inédito prevê a expansão do ensino da Língua Brasileira de Sinais para todas as unidades da rede estadual de saúde diminuindo as nossas barreiras de comunicação com a pessoa surda. 

Outros muros já estão sendo derrubados, como no acompanhamento de crianças com transtorno do aspectro autista (TEA), no Centro Especializado em Reabilitação e Promoção da Saúde (CER) do Olho d’Água, aberto em abril do ano passado. No país, o Projeto TEA, apelido carinhoso dado ao serviço, é a única experiência de serviço público especializado de intervenção conforme prescrito pelo método ABA. Esta ciência é comprovadamente mais eficaz e traz resultados tangíveis aos nossos pequenos pacientes.

Não à toa, o serviço foi destaque no jornal Estadão (São Paulo) na última semana. Também, o reconhecimento do atendimento e eficiência do serviço emergiu em uma procura intensa para acesso de outras crianças ao Projeto. A expansão deste serviço para outras unidades da rede estadual de saúde será realidade em breve.

Todo este investimento visa dar mais autonomia aos nossos usuários, e mais, é a garantia da integralidade dos seus direitos, de acesso a serviços públicos de qualidade e dignidade. 

Você pode ter visto o mar ou rio diversas vezes, assim como caminhado até ele e mergulhado, mas algumas limitações tiram de centenas maranhenses este prazer. Este mês integramos ao atendimento e reabilitação da pessoa com deficiência física do CER as cadeiras anfíbias. Agora, os usuários terão mais autonomia durante as atividades realizadas dentro do mar. Alguns puderam desfrutar pela primeira vez da sensação, do gosto da água salgada, da felicidade que o mar consegue proporcionar.

Ansiando fazer mais, em primeira mão, anuncio que também será integrado ao serviço do CER a reabilitação para pessoas com baixa visão. O atendimento começa em outubro e vai auxiliar na independência aos acometidos por esse tipo de deficiência. 

A ausência de visão, a surdez ou a condição física do cadeirante são meras limitações funcionais, inerentes à diversidade humana. A deficiência, por sua vez, consiste na interação de tais atributos com barreiras existentes no meio social, cujo resultado é a dificuldade ou o impedimento para o acesso e exercício de direitos em igualdade de condições com as demais pessoas.


A deficiência, portanto, é externa à pessoa. Ela decorre da incapacidade de a sociedade se organizar adequadamente para permitir a convivência de pessoas que estão fora dos padrões dominantes. E é papel do Estado exatamente diminuir tais barreiras.

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