“Muita gente tem essa oportunidade de se tratar, mas poucos escolhem esse caminho.” O depoimento é de um dependente, que até esta semana morou nas ruas da capital, encontrado durante a Ação Resgate.
Escolher um caminho quando estamos tão perdidos faz parecer que qualquer rota é a errada, tudo fica confuso. As pessoas em situação de rua, dependentes de algum tipo de droga, se encontram assim. Lamentavelmente percorrem várias ruas, mas nenhuma leva para longe dos vícios.
Algumas dessas pessoas já não possuem amigos nem são aceitos pela família. E, mesmo no momento em que se dão conta que perderam absolutamente tudo, o caminho de volta é incerto. A droga confunde, o vício envergonha.
E assim, em situação de total decadência, essas pessoas esperam por ajuda. Na verdade, eu diria que elas podem não esperar por justamente terem esperado tempo demais. Há quem tenha morado por décadas na rua e sequer recebeu comida, quanto mais um convite para ser socorrido?!
Especificamente, em nossa capital, a Ação Resgate é um passaporte de esperança para uma nova estrada, ou para voltar aos trilhos.
Por sinal é muito oportuna a escolha do nome deste projeto, que, como já deu para perceber, tem o objetivo de resgatar usuários de entorpecentes e oferecê-los um tratamento eficiente. Segundo o dicionário, o substantivo ‘resgate’ significa, entre outras coisas, o ato de libertar, de livrar; livramento, libertação.
Por meio desse projeto, profissionais de saúde, junto com outras tantas entidades parceiras, vão às ruas, olham nos olhos dessas pessoas, conversam com elas depois de uma dura noite e as convidam para uma nova vida. Além de retirar usuários da situação de rua, o projeto garante abrigo, roupa, comida, tratamento e capacitação profissional para que eles reestruturem suas vidas. A Ação Resgate verdadeiramente promove liberdade.
Cada um vive a sua própria prisão. Nem sempre dá para sair dela sozinho. Para alguns, o amor familiar é a saída. Para outros, o trabalho é libertador ou sessões de terapia. Para quem está nas ruas, ser visto como pessoa, ter alguém interessado em te ajudar na sua mais miserável condição pode ser, finalmente, a porta aberta para a saída daquela cela.
A Ação Resgate é mais que uma ferramenta estratégica na área da saúde e segurança pública, é um projeto que exige humanidade. Por exemplo, desde semana passada o projeto retorna ao mesmo ponto, o Mercado Central, para garantir que todas as pessoas em situação de rua naquela área possam mudar suas vidas.
Os primeiros 10 aceitaram, depois mais cinco, em seguida mais três. A Ação continua.
Os resgatados, depois da adaptação inicial, são encaminhados para casas de reabilitação, como a Unidade de Acolhimento da Cohab e a Fazenda Esperança, na cidade de Coroatá, para início do tratamento.
Além de transformar vidas, ouso dizer, não existe Cracolândia em São Luís como em outras capitais por causa do esforço fora do comum dos profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) e da Polícia Civil, por meio do 1° Distrito Policial (DP), com a Ação Resgate.
Eles são incansáveis. Entendem a responsabilidade, ou melhor, tomaram para eles mesmos uma missão que vai além de suas paredes. Esta sempre será a diferença de pessoas extraordinárias e as medíocres – se me permitem pontuar.
Para os que ainda hão de escolher o caminho longe dos vícios, a Ação Resgate não desistirá até libertá-los. Se em cada cidade maranhense, projetos de saúde mental, como este, pudessem ser multiplicados pelo poder público, instituições particulares, religiosas e/ou filantrópicas, nosso estado seria contagiado de pessoas extraordinárias, de libertadores.
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