Uma das grandes expectativas de uma equipe em relação àqueles que ocupam cargos de liderança é a tomada de decisão. Um líder precisa decidir. Sempre que surgem conflitos, é ele a quem todos buscam. É seu papel ter de decidir.
E talvez o ponto mais difícil para todo líder é a solidão que envolve esta decisão. Quem está na posição de tomar decisões que influenciarão a vida de milhares de pessoas, invariavelmente, sente-se sozinho. Cabe a ele, e somente a ele, tomar determinada conduta, cuja consequência é sempre incerta.
E essa solidão pode gerar uma angústia a paralisar quem está obrigado a decidir. Afinal de contas, não queremos errar, não queremos perder. O israelense Daniel Kahneman, merecedor do Nobel de Economia em 2002, é considerado um teórico da economia comportamental. Combinando economia com a ciência cognitiva, ele tenta explicar o comportamento aparentemente irracional da gestão do risco pelos seres humanos.
Segundo o teórico, temos mais medo de perder do que vontade de ganhar. A frase pode soar estranha, afinal todos querem ganhar. Concordo. Em contrapartida, na balança entre o medo de perder e a vontade de ganhar, o medo vence na maioria das vezes. Eis o ponto.
Assim acontecem em empresas, em governos, na família, no futebol. Um líder, afinal de contas, precisa aprender a decidir. Se ele se deixa paralisar pelo medo, ele vai errar. Um exemplo singelo nos ajuda a elucidar o problema. No meio da semana, no Maracanã completamente lotado, aconteceu algo chato (risos). O Flamengo perdeu, nos pênaltis, para o Atlético Paranaense, e acabou desclassificado da Copa do Brasil. O assunto em questão não é o fato de perder a partida ou cair fora desta competição, mas o que aconteceu no jogo, especificamente com Diego, o badalado camisa 10 da Gávea.
Flamengo e Atlético Paranaense chegaram aos pênaltis. O Maracanã gritava, o Brasil todo assistia, os narradores da principal emissora de televisão mal conseguiam esconder sua torcida pelo time carioca. O técnico europeu multicampeão havia sido contratado, centenas de milhões de reais foram investidos nos mais diversos jogadores. O goleiro do Flamengo é tido como um dos maiores pegadores de pênaltis da atualidade. Pelo contexto, a decisão por penalidades aparentava ser apenas um protocolo para a vitória do time carioca.
Mas o analista Téo Benjamin fez um levantamento que chegou ao seguinte, e curioso, resultado: em média, 76% das cobranças em disputas de pênalti são convertidas, mas quando a situação é “se fizer, ganha”, o aproveitamento sobe para 92% e quando é “se não fizer, perde”, cai para 60%. Daniel Kahneman explicou isso teoricamente.
O Flamengo foi sugado para o “se não fizer, perde” já no primeiro chute da cobrança de pênaltis. Diego Ribas, o camisa 10, capitão do time, começou a batida emocionalmente instável. Era ele, o goleiro e o Maracanã em um absurdo silêncio que gritava. Naquele momento, a decisão era dele. Não poderia pedir ajuda a ninguém. Sua decisão influenciaria um mundo inteiro. E o mundo lhe caiu sobre a cabeça.
O meia sentiu todo o peso de decidir. O gol diminuiu, o goleiro cresceu, a bola ficou pesada. Diego foi engolido pelo medo de perder e perdeu. Um peteleco no meio do gol. O goleiro adversário mal precisou se movimentar para defender a bola.
Outros dois batedores do Flamengo sentiram a solidão, o peso sobre os ombros e erraram as cobranças de maneira bisonha. Não bateriam da mesma maneira num pênalti sem caráter decisivo.
Futebol é basicamente uma disputa emocional. O Flamengo, para euforia da torcida vascaína, terminou, por fim, eliminado.
Em 2017, Diego apostou na mesma cobrança no meio do gol ao ter um pênalti contra o Vitória no último minuto de jogo que colocaria ou não o Flamengo na disputa da Libertadores. Naquele ano, deu certo. Muitas vezes, optamos por nosso lugar seguro achando que estaremos protegidos contra as perdas. Ledo engano.
A aversão à perda é a coragem de obter a vitória. São decisões que precisam ser tomadas todos os dias, num pênalti no Maracanã lotado ou num gabinete por um líder. Solitárias, difíceis, com enorme impacto na vida de milhares de pessoas. Todos estarão observando e esperando que atitude será tomada.
Que o medo, a angústia e a solidão não nos paralisem. Isto é o que a vida requer de nós.
E você, que pênalti precisa bater hoje?
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