segunda-feira, 25 de maio de 2020

MILAGRES, por Carlos Lula


Dentro de casa, isolado, um homem pede ajuda ao ser infectado pelo novo coronavírus. Ele precisa ser urgentemente internado. Os 350 quilos preocupam familiares, amigos, profissionais de saúde - ele mesmo. Infelizmente, a obesidade é um fator de risco mais evidente em pacientes graves. 

Com o novo coronavírus é isto: a ciência, a fé e a esperança precisam andar juntas. Afinal, o que mais explicaria este paciente sobreviver - com todas as doenças crônicas advindas da obesidade - mesmo perdendo 20 quilos?! Os profissionais do Hospital Dr. Raimundo Lima, em São Luís, vão explicar que o protocolo é o mesmo, mas cada pessoa se comporta de uma forma diferente ao vírus. Eu observo a história e digo a mim mesmo “é milagre”. 

Uma paciente centenária, na cidade de Balsas, venceu a Covid-19 aos 102 anos de idade. A foto onde aparece de pé, com cabelos brancos como algodão, ao lado da equipe multiprofissional do Hospital de Campanha do município deixa registrado na história a trajetória da mulher que passou por duas pandemias. Nasceu no ano da gripe espanhola e sobreviveu ao novo coronavírus. Quando isso tudo acabar, preciso conversar com ela. Para mim, sua história já é fascinante.

Poucas pessoas nesta pandemia terão vivido algo semelhante a história de pai e filho internados no Hospital Dr. Genésio Rêgo. A preocupação em dobro da família contava com o alívio por estarem juntos na luta contra a Covid-19. A alta de Márcio trouxe alegria e consolo para o pai, seu José Alves. Ele permaneceu sem previsão de alta, internado por mais tempo. Somente após 25 dias de internação, seu José voltou para a família recuperado. Pai e filho terão uma história peculiar a contar às futuras gerações. Este é um presente raro da vida. 

E, nesta semana, um registro fotográfico nos apresentou a uma idosa em sessão de ‘terapia do amor’. Os profissionais do Hospital Regional de Timon perceberam que a paciente, de 105 anos, respondia melhor ao tratamento quando recebia carinho, principalmente cafuné. A estratégia mudou não apenas a assistência à paciente, mas também os profissionais que se dedicaram a ela até seu último suspiro. Aqui, o milagre não é sobre viver, mas sobre o impacto na vida dos que cuidaram dela. Certamente, outros devem seguir o exemplo.

Sobre estes profissionais na linha de frente. O que dizer dos mais de 730 curados?? Em um universo de quase 900 pessoas positivas que, por estar em contato direto com dezenas de pacientes, recebem maior carga viral. A recuperação de cada um deles tem sido um milagre. Médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas escolheram retornar à batalha após a vitória sobre o vírus, mesmo cientes que não há comprovação científica de imunidade após a infecção. Admiro a convicção deles em compreender que salvar vidas vale o risco. 

Cada vez que estes aplaudem um paciente de alta, eu os aplaudo pois são instrumentos da ciências, da fé e da esperança sobre o novo coronavírus. A pandemia não é eterna, vai passar. Os milagres acontecem diariamente. Hoje, poder viver para conhecer estes milagres é um presente diário em dias de pandemia. Nos resgata, nos enche de fé e esperança. Energia a nos mover.

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