quarta-feira, 8 de julho de 2020

Falta de sintomas vira álibi para a irresponsabilidade


Após resistir longamente a divulgar seus exames para a covid-19, Jair Bolsonaro os apresentou em maio, apenas após o caso chegar ao STF, em ação movida pelo Estadão. Com codinomes, os exames atribuídos ao presidente davam negativo.
Agora, sem ninguém pedir, coincidentemente duas semanas (mesmo tempo de incubação do vírus) após a prisão de Fabrício Queiroz, Bolsonaro resolveu divulgar novo exame, desta feita positivo e sem codinomes.
O próprio presidente o anunciou, vivaz e usando máscara simples. Voltou a banalizar a doença –como chuva, pegará a todos – simulando que seu “histórico de atleta” e a cloroquina foram suficientes para lhe manter bem-disposto.
Nenhuma surpresa, considerando que 80% dos acometidos têm sintomas leves ou moderados; 15% adoecem gravemente e só 5% chegam a estado crítico, que pode lhes ceifar a vida.
Aos 65 anos, Bolsonaro tem maiores riscos. Mas a matemática do vírus não é tão exata – afinal, estatísticas são probabilidades. O idoso Valdemar Domingues, 92 anos, hipertenso e diabético, recuperou-se da doença após 18 dias em Camacan, Sul da Bahia. Já a jovem Kamylle Ribeiro, com 17, sem comorbidades, morreu em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
São tais incertezas que requerem de autoridades prudência e duras medidas de prevenção. Bolsonaro, em vez disso, dá mau exemplo, produz aglomerações, sabota medidas sanitárias e recomenda fármaco sem benefícios comprovados, mas de efeitos adversos certos, partidarizando a pandemia.
Seu contágio com sintomas leves lhe serve de álibi para seguir propagando o vírus, a mistificação e a irresponsabilidade governamental.
FONTE: Estadão

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