Já passava de sete horas da noite de quarta-feira quando meu telefone tocou. Depois de alguns minutos de conversa, recebi a notícia da renúncia do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Como vice-presidente, caberia a mim, a partir de então, o exercício do cargo. Fiquei refletindo sobre o que faria dali em diante. Uma palavra veio à cabeça e desde então segue aqui, em repetição constante: coordenação.
Não se trata simplesmente de uma ordenação, em que as coisas são postas em uma ordem, pura e simplesmente. Eu posso ordenar uma série de atividades sozinho, pois o único interesse em jogo é o de finalizar a tarefa e, para isso, não preciso de mais ninguém. O sentido de coordenar, etimologicamente falando inclusive, é muito amplo e, por assim dizer, muito mais desafiador. Significa ordenar em conjunto, de maneira coletiva. Não basta apenas a vontade individual para que a coordenação seja efetiva. Ou seja, a individualidade é necessária, mas não suficiente.
Embora pareça ser implícito ao ato de coordenar, ela deve ter em seu conteúdo a pluralidade como máxima inquestionável. As decisões oriundas da coordenação precisam abranger a diversidade de opiniões e visões de mundo, isto é, precisam se colocar acima das celeumas ideológicas em voga no país. Isto não elimina nossas opiniões pessoais, muito menos nos transforma em seres apolíticos, mas coloca na ordem do dia a prioridade do que precisa ser feito: cooperar para salvar vidas.
Imagino que a tarefa de coordenar tem sido gigantesca nesse período de crise sanitária, muito em função da excepcionalidade da situação em que vivemos e da necessidade de ouvir com atenção, compreender, agregar e tomar as melhores decisões. Mas a coordenação tem sido palavra de ordem, palavra sagrada para o SUS desde a sua concepção. Significa não abandonar quem é importante. E quem é importante para o SUS? Todos nós.
Muitas vezes a defesa do SUS se confunde com missão de vida, com profissão de fé. Passei a acreditar ainda mais nisso quando em 29 de abril de 2016 iniciei na condução da política saúde do Estado do Maranhão. Assim como diversos conterrâneos meus, os desafios pela frente nunca me perguntaram se eu estaria pronto para eles. Fazemo-nos prontos enquanto a luta acontece.
O compromisso com a saúde pública é ainda maior porque existe um vírus a ser controlado, existem vidas brasileiras a serem salvas. Histórias de vida que não podem ser interrompidas em virtude de más decisões administrativas.
A ponderação necessária que o momento exige nos coloca diante da reflexão que as instituições precisam ser mais um aliado no contexto da pandemia. Em hipótese nenhuma podemos colocar em risco o trabalho sério de enfrentamento ao coronavírus em virtude de eventuais atos de improbidade no erário público.
Defendo que o meio termo entre as instituições de controle, absolutamente necessárias para qualquer democracia, e as instituições executoras de políticas públicas seja um diálogo qualificado, intrínseco ao contexto de dificuldades vivenciado por cada gestor de saúde e que objetive o melhor resultado para o cidadão brasileiro, para o usuário do SUS. Mas o controle não pode paralisar a atividade administrativa, não pode amedrontar o gestor, não pode tirar a tinta de sua caneta. Precisamos de ação, precisamos de coragem.
Cinco meses já se passaram e o Brasil ainda procura o caminho para enfrentar o novo coronavírus com o menor impacto possível, isto é, com menos vidas perdidas para o vírus. Em janeiro, os olhos estavam voltados para a cidade chinesa de Wuhan, em fevereiro para a Itália, em março para São Paulo e, desde então, pouco a pouco, a preocupação está direcionada a alguma região do país.
Sem coordenação, sem unidade, o Brasil chegará a dezembro ainda sofrendo os efeitos dessa desarticulação no controle da pandemia. A estratégia precisa mudar e somente com uma ação articulada e conjunta o país terá condições de superar o vírus e seus efeitos. Mês de julho de 2020, este é o desafio aceito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde: nos propomos a ser uma instância de mediação para encontrar a saída para a crise que vivemos. Entramos separados na encruzilhada da pandemia, mas só é possível encontrar o caminho de saída juntos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário