A Constituição prevê que, caso um deputado seja preso, caberá à Câmara analisar a acusação, os argumentos do Supremo e, então, avaliar se a medida será ou não mantida. A palavra final, portanto, é dos próprios deputados.
Eram necessários 257 votos para confirmar a ordem de prisão, que partiu do ministro Alexandre de Moraes, do STF, na noite de terça (16) e foi mantida no dia seguinte por unanimidade pelos 11 ministros do plenário da corte.
O placar na Câmara nesta sexta ocorre após Silveira ter ficado isolado, sem apoio de Bolsonaro nem de membros do governo. O presidente evitou manifestações públicas nos últimos dias em defesa do aliado.
Na sessão, a Câmara mandou um recado à corte. O relatório aprovado, redigido pela deputada Magda Mofatto (PL-GO), ressaltou que os parlamentares têm imunidade para opinar, mas que a prisão de Silveira é um caso excepcional, em função do que considerou ameaças gravíssimas à democracia.
A mensagem é que o caso do deputado bolsonarista não abre um precedente, uma brecha, para que a mesma medida seja amplamente adotada, e sim que se trata de uma exceção.
Ao delimitar o episódio, o líder do centrão definiu a intervenção do STF sobre as prerrogativas parlamentares como "extrema" e afirmou que também deveria ser "ponto fora da curva, sob o risco de banalizarmos excessos que, pelo caminho oposto, ultrapassariam o plano do razoável e passariam a orbitar também a atmosfera da irresponsabilidade."
Em discurso, Silveira pediu desculpas à população brasileira, disse que se excedeu e negou ser um risco à democracia.
Silveira é alvo de dois inquéritos na corte -um apura atos antidemocráticos e o outro, fake news. A ordem de prisão contra o deputado bolsonarista foi expedida na investigação sobre notícias falsas por causa do vídeo com palavras de baixo calão contra os ministros do Supremo, em que acusa integrantes da corte de vender sentenças e sugeriu agredi-los.
Ao longo da semana, Silveira foi abandonado por membros do centrão –grupo de partidos que se tornou da base de Bolsonaro após a liberação de cargos e emendas.
Nem mesmo todo o PSL defendeu a liberdade de Silveira. O partido, que hospedou Bolsonaro nas eleições de 2018, se dividiu após divergências internas e denúncias de candidaturas laranjas. Ficaram ao lado de Silveira nesta sexta alguns deputados mais ligados ao bolsonarismo.
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), também queria ver o deputado do PSL solto. Apesar de ter declarado essa posição ao longo da semana, Barros decidiu deixar a base governista livre na sessão desta sexta -não orientou ao grupo voto a favor nem contra a prisão.
Na prática, o governo se isentou de entrar na discussão sobre o futuro do aliado de Bolsonaro. No Palácio do Planalto, a recomendação também foi evitar o envolvimento com o caso.
Foi por causa desse distanciamento e por causa da manifestação unânime do STF pela prisão que o centrão acabou mudando de tendência ao longo da semana. O movimento corporativista em defesa da Câmara e da liberdade de expressão de Silveira perdeu força.
Isso por alguns motivos: derrubar uma decisão do Supremo e libertar um deputado que inclusive sugeriu agressões a ministros da corte poderia abrir uma crise institucional; Silveira é um político defensor da antipolítica e não é membro do centrão; e ficou a percepção que a prisão dele foi uma medida fora da curva e um episódio isolado.
Pela Constituição, congressistas não podem ser presos, apenas em caso de flagrante de crime inafiançável. A prisão de Silveira por causa da publicação de um vídeo de ataques ao Supremo gerou preocupação a líderes da Câmara –alguns deles também investigados pela corte.
O receio era que, ao concordar com essa medida, a Casa seria dado um precedente mais amplo para o Supremo usar o mecanismo de prisão em flagrante. Mas, após conversas de bastidores entre integrantes da Câmara e da corte, a tensão diminuiu.
Há um ano o plenário da Câmara derrubou uma decisão do então ministro Celso de Mello, do STF, que havia afastado do mandato o deputado Wilson Santiago (PTB-PB), acusado de desviar verbas de obras contra a seca no sertão da Paraíba.
À época, o argumento dos parlamentares era o de que uma decisão como a de Celso de Mello abriria um perigoso precedente. Segundo eles, não haveria impunidade já que as acusações contra Santiago seriam analisadas pelo conselho de ética da Câmara.
Apesar disso, até hoje, mais de um ano depois, o caso de Santiago está parado na estaca zero –na Mesa da Casa aguardando deliberação sobre arquivamento ou envio ao conselho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário