Perdemos 600 mil vidas para a Covid-19. Com 19 meses de batalha, eu gostaria de escrever sobre um cenário diferente: o Brasil zerou as mortes em razão deste vírus. Por um instante, chegar neste patamar parecia ser possível. Entramos em 2021 com esta esperança.
O inimaginável aconteceu. Ao mesmo tempo em que a vacina chegava ao nosso país, enfrentávamos, concomitantemente, a guerra contra a variante Gamma. A pandemia não seria dominada tão facilmente.
As doses de vacina fracionadas reduziam nossas chances de evitar tantas mortes de uma só vez. A nova falta do conhecido kit de entubação prejudicou ainda mais a corrida contra o tempo para salvar vidas. Sem contar, os problemas com o oxigênio em algumas localidades, que agravou ainda mais a situação.
O Brasil enfrentou problemas logísticos, erros de planejamento e escassez do mercado farmacêutico nacional. Tudo enquanto a Gamma invadia cada canto do nosso país, seguida pela Delta mais a frente. Saltamos de 200 mil vidas perdidas, em 2020, para 600 mil neste ano que ainda não acabou. Sem dúvidas, o pior momento desde o início da pandemia.
Os impactos da pandemia, até certo ponto, também foram atenuados pelo aprendizado do ano anterior. Novamente, ampliamos os leitos da rede pública de saúde, investimento em testagem da população e restringimos parte da atividade econômica, sobretudo, aquelas que promoveriam ou colaborariam com aglomeração de pessoas.
Com a alta transmissibilidade das variantes da Covid-19, as barreiras sanitárias necessitavam ser mais eficazes e a colaboração da população seria essencial para evitar o crescimento acelerado e o colapso na rede de saúde.
De algum modo, cansados com as medidas de restrição e a necessidade do retorno da atividade econômica, os brasileiros arriscaram suas vidas. Haviam perdido o medo inicial do vírus, o comportamento também favoreceu o crescimento de internação e mortes, um pico do vírus logo no início do ano.
Nesta fase, o que muda é a vacinação. Definitivamente, ter 70% da população do país vacinada com uma dose retarda um novo pico, mesmo com o avanço da Delta. Acontece que não é suficiente para evitar uma nova ter parcela dos brasileiros com a D1 e 45% com o esquema vacinal completo. Precisamos vacinar mais e mais rápido.
Esta aceleração depende de três fatores. O primeiro deles é a garantia de distribuição das vacinas sem novas interrupções. Além disto, o Programa Nacional de Imunizações não deve ser sabotado. Por fim, o mais importante de todos, a população deve compreender que somente à ciência nos levará a vencer à pandemia e evitar mortes. Menos de 50% das pessoas que tomaram a primeira dose, retornaram para a segunda, isso é preocupante.
A maneira mais eficiente de vencer a Covid-19 é com cooperação. Um dos mais importantes exemplos do enfrentamento da pandemia é Taiwan. Por lá, a atuação da agência de saúde encontra apoio na população. O primeiro pico da Covid-19 aconteceu este ano e durou menos de um mês para controlar. O que fizeram de extraordinário? Nada diferente do que já temos repetido tantas vezes: pessoas doentes buscam atendimento, casos leves se isolam e lavagem das mãos como rotina do dia. Além disso, quando chegar sua vez vacine-se.
A propósito, até Taiwan, com quase nenhum caso diário da Covid-19 sabe que não é o momento de tirar as máscaras de proteção, em razão dos riscos com as variantes do vírus e da baixa cobertura da vacinação. Só no Brasil, essas ideias aparecem como um surto. Esperamos que um surto isolado e controlado pelo bem do nosso povo.
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