sábado, 30 de abril de 2022

Como aprendi a falar Juçara, por Marcos Grande


Quando cheguei ao Maranhão, tinha uma missão de trabalho muito bem definida. Colaborar na construção de políticas públicas que melhorassem a vida da população, e desde cedo coloquei isso em prática. Na primeira vez que caminhei pela beira-mar, lembrei de Belém e de como as duas cidades têm uma história secular de amizade e parceria.

Assim que minha segunda filha nasceu, me dei conta que o vínculo com esta terra seria definitivo. Tanto Ísis quanto Isabela compartilham o mesmo sentimento que eu tenho pelo Maranhão: uma gratidão enorme que transborda para além das fronteiras. Gosto muito de pensar que não escolhemos o lugar onde moramos, ele é quem nos escolhe. No meu caso e no da minha família, não foi diferente. Vim de um lugar onde o açaí é uma iguaria e assim que cheguei por aqui me dei conta das diferenças que existem. 

Nunca imaginei que, trabalhando e morando no Maranhão, enfrentaria um desafio tão grande como foi a pandemia do coronavírus. Mas por onde passei ao longo desse tempo, as pessoas que cumprimentei, as unidades de saúde, os trabalhadores e trabalhadoras do SUS de alguma forma me deram força para concluir uma jornada de muito êxito na saúde pública do estado. De certa forma é gratificante poder olhar para trás e perceber que o legado que ficou tem uma parcela, ainda que pequena, de contribuição minha.

Lembro que os primeiros meses de 2020 foram turbulentos e, tão logo tive ciência do tamanho da crise sanitária que se aproximava, pensei nos meus irmãos e irmãs, familiares que moram no estado vizinho. Não tivemos tempo para lamentações porque havia uma estrutura para ser montada e equipada com urgência. O vírus nunca quis saber se estávamos prontos ou não. Hoje, cada vez que leio no jornal que o Maranhão possui a menor taxa de mortalidade por covid no Brasil, penso nos meus irmãos e irmãs maranhenses, nessa grande família que ganhei ao longo dos anos por aqui.

De Balsas a Presidente Dutra, de Araioses até Carutapera. De Viana até Santa Inês. Percorri os quatro cantos deste estado em uma missão árdua, mas que me trouxe uma satisfação pessoal: conhecer de perto a imensidão que esta terra possui. Poder participar da mudança que aconteceu, e principalmente qual o impacto da chegada do SUS em regiões que antes eram descobertas me proporciona um fôlego de vida. Quem me conhece sabe o quanto eu sou feito para o trabalho e hoje, em novas frentes e novos projetos, penso sempre em como contribuir para assegurar a dignidade para cada maranhense. 

García Márquez dizia que a vida é uma sucessão de oportunidades, e desde que me dei conta disso, ainda jovem, passei a encarar cada dia com muito afinco e seriedade. Enfrentar cada acontecimento na vida como uma oportunidade nos faz, e me fez, despejar cada gota de suor em trabalhar em cima de objetivos concretos. Muitas vezes traçamos objetivos e somos felizes com os resultados, muitas vezes somos surpreendidos.

Acontece que a vida da gente é repleta destas surpresas. Caminhos que se cruzam, histórias que se misturam e ganham outros contornos. Comigo não foi diferente. O Maranhão me entregou muito, me ensinou e continua me ensinando muito. A sabedoria da sua gente, o pôr do sol na praia da Ponta da Areia, a gratidão de cada usuário do SUS que foi bem atendido e voltou para casa com saúde. A simplicidade da vida na baixada, a humildade do sertanejo, a alegria do povo do litoral. Tudo isso transformou minha maneira de enxergar a vida e de me comunicar. Hoje eu falo juçara com muito orgulho!

Marcos Grande, Gestor Público e Ex-presidente da Emserh

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