É um pesadelo. O petróleo cru continua a ser espalhar pelo litoral nordestino há dois meses. A retirada das mais de 3.600 toneladas de resíduos das praias tem seu motivo para comemoração. Por outro lado, falta conhecer os eventos para além do impacto ambiental e econômico. Os riscos à saúde acarretados deste crime são iminentes e desconhecidos em sua totalidade.
Até onde se sabe, são mais de 80 praias atingidas, sem contar manguezais, estuários, comunidades ribeirinhas, corais, dentre outras áreas afetadas. Maranhão e Piauí são os estados com menor registro de locais atingidos pelo petróleo. A retirada do material denso de modo manual e muito rudimentar torna ainda mais frágil as ações de controle desse desastre.
O petróleo cru nas praias brasileiras é um tipo de tragédia sem precedentes. Diferente dos vazamentos de óleos na indústria petrolífera, geralmente em alto mar e que não chegam a tocar a costa, a consequência desse episódio resultou em mais de 80 mortes de animais, principalmente tartarugas marinhas.
Pontos turísticos mais procurados no litoral nordestino decretaram estado de emergência. Rede hoteleira, restaurantes, pescadores locais e toda comunidade que sobrevive do turismo de lazer tem sofrido 60 dias de prejuízo. Algumas áreas não estão completamente livres do reaparecimento do petróleo e para essas, o pesadelo é diário.
As consequências para a saúde, em parte, ainda são misteriosas. Já há evidências das reações após contato com o óleo, como náuseas, irritações na pele e problemas respiratórios diversos. Contudo, o conhecimento técnico-científico aponta para outros riscos suscetíveis das substâncias contidas nesse material.
Separando cada componente, a Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta para os perigos químicos a que estão expostos voluntários, bombeiros, profissionais do meio ambiente. O contato com o petróleo cru pode provocar doenças hepáticas, renais e pulmonares, além de alteração de humor e impacto nas funções cognitivas.
A balneabilidade das praias e ingestão de peixes e crustáceos de áreas atingidas também são motivo de preocupação. Por isso, embora o Governo Federal se mostre despreparado para essa tragédia, os governadores e secretários de Saúde dos nove estados do nordeste já estudam as possíveis sequelas à saúde da população, que certamente caberá ao Sistema Único de Saúde garantir resposta e imediata assistência.
Durante esta semana, Consórcio Nordeste e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) se reúnem, em Salvador, para traçar estratégias de atendimento e condução dos casos que poderão aparecer, além de ações para reduzir riscos de adoecimento em larga escala do nosso povo.
Os milhares de voluntários e profissionais envolvidos devem ser amparados pela rede de saúde dos municípios, estados e União. Quem ajudou a limpar nossas praias e trabalha incansavelmente por elas, merece nossa total atenção. Aos responsáveis por este crime cabe esperar a punição mais severa na forma da lei.
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