terça-feira, 18 de junho de 2019

CULTURA TERAPIA, por Carlos Lula



O maranhense passa 5 meses do ano desejando chegar junho. Depois que junho passa, ele já sonha com o próximo ano. De todas as festividades, celebrações, dias santos no ano nenhum período é tão a cara do Maranhão como este. Suspeito dizer, de maneira ousada, que chega a ser nosso saudosismo incurável que nos faz desejar esta temporada de bandeirinhas, músicas, danças e comidas típicas.

Nossa reação a este período pode ser explicada pela imortalizada canção ‘Maranhão, meu tesouro, meu torrão’. Na voz do mestre Humberto de Maracanã, este hino obrigatório nos arraiais diz “esta herança foi deixada por nossos avós, hoje cultivada por nós, pra compor tua história, Maranhão”.

Toda esta alegria típica do maranhense por este período é fruto da bem enraizada cultura, ensinada por nossos pais, nossos avós, nossos antepassados. As festividades juninas lembram nossa infância em família e despertam em nós indispensável satisfação, um orgulhoso presunçoso.

Do mesmo modo que você e eu vibramos com os arraiais públicos e privados nos quatro cantos deste vasto estado, os maranhenses internados nas muitas unidades de saúde da nossa rede sentem falta dessa alegria contagiante.

Se por um lado, aguardamos os arraiais para brincar e perpetuar nossa tão rica cultura, para eles, os pacientes, a aproximação com as comemorações juninas auxiliam no tratamento terapêutico e reabilitação.

Os moradores das Residências Terapêuticas, por exemplo, são pessoas com transtornos mentais graves, mas que respondem ao estímulo da música e dança. Aliada à atividade terapêutica regular, as atividades culturais desenvolvidas com estas pessoas já produzem resultados favoráveis a à reabilitação destes.

Embora haja olhares duvidosos à ‘brincadeira’ junina dentro do ambiente da saúde, nossas equipes realizam, antes de tudo, uma análise da situação clínica dos pacientes e como a brincadeira afetará o tratamento dos usuários. Intencionalmente, tudo é feito para o bem daqueles que estão sob nossos cuidados.

Certa vez professora e escritora Ceres Costa Fernandes, membro da Academia Maranhense de Letras, escreveu, talvez sem querer, sobre a memória corporal estimulada pelas festividades de junho. “Nesses dias, paira um frisson contagiante entre os jovens e entre os mais velhos que conservam na memória dos corpos os meneios das danças e as batidas dos pandeirões e das matracas. Ao chamado das toadas, reúnem forças esquecidas e mergulham o corpo e a alma nas brincadeiras.”

Levar toda a beleza da nossa cultura para o ambiente hospitalar faz despertar - por meio do som, comida, dança - a memória corporal dos nossos pacientes. A mente reage a estes estímulos, o corpo entende e responde quando estimulado fisicamente. “Refletindo emoções, memorizando e reagindo a sensações marcantes, o corpo funciona como um mapa capaz de indicar o caminho para alcançarmos o equilíbrio e a cura”, escreve Carmen Renee Berry, autora de diversos livros sobre memória corporal.

A nossa cultura além de esbanjar beleza, movimentar a economia, manter viva a história dos nossos antepassados, também contribui para resgatar vidas. Por estes, o mês de junho deve ser festejado com intensa alegria.

Viva a cultura maranhense!

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