Ao perguntar aos eleitores de quatro capitais brasileiras quais características são importantes em um prefeito, a Quaest identificou a idoneidade no topo em todas elas. O adjetivo “honesto” lidera em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife, seguido de perto por “competente”. A informação avulsa, no entanto, esconde a trajetória de queda do atributo moral, que era bem mais valorizado há apenas quatro anos, no último pleito municipal.
No Rio, por exemplo, pesquisa Ibope (atual Ipec) de 2020 colocava “ser honesto” como virtude prioritária para 67% da população, quase o triplo dos 23% levantados agora pela Quaest – que não realizou levantamentos naquele ano. A mudança é parecida em Belo Horizonte, onde o índice caiu de 63% para 27%. Por serem de institutos diferentes, os dados não são perfeitamente comparáveis, mas dão um bom termômetro da reconfiguração de prioridades.
— Tivemos um ciclo de eleições críticas, aquelas que ocorrem numa conjuntura caracterizada por crise econômica e escândalos no terreno da corrupção ou outros fatores políticos, como o impeachment da presidente Dilma. Nessas situações, a questão da honestidade e da integridade se sobressai como demanda dos eleitores — avalia o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, presidente de honra da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel).
Passada a “tempestade”, observa o especialista, volta-se a um cenário de “eleições normais”. Nelas, a demanda por honestidade tende a cair, e atributos como “competência” despontam novamente.
De fato, ser competente aparece em segundo lugar nas quatro capitais testadas pela Quaest. Em São Paulo, Rio e Recife, está inclusive em empate técnico com a honestidade, considerando a margem de erro de três pontos para mais ou para menos.
Mesmo assim, dada a gordura criada pela demanda por honestidade no período de crise política mais intensa no país, a característica deve continuar relevante para os brasileiros, observa Lavareda.
— “Honestidade” vai permanecer por muito tempo porque a percepção da população é de que a política é um terreno de comportamentos irregulares. Então, essa demanda veio para ficar — diz.
‘Trabalhador’
Nas duas cidades que têm prefeitos com alto índice de avaliação positiva, Rio e Recife, “trabalhador” aparece como a terceira qualidade valorizada — e os eleitores a associam a Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB), candidatos à reeleição.
Quando o eleitor carioca é apresentado a algumas características positivas e perguntado sobre qual candidato melhor as personifica, Paes lidera em todas, mas registra especial vantagem no quesito trabalhador. É considerado o mais dedicado ao ofício por 67%, contra apenas 8% de Alexandre Ramagem (PL) — que, em atributos como “honesto”, “competente” e “justo”, chega aos dois dígitos.
No caso de João Campos, o dado é ainda mais impressionante: 91% dos recifenses o consideram o mais trabalhador entre os candidatos. Apesar de também liderar com folga nas outras virtudes, não passa dos 80% nelas.
Já em São Paulo e Belo Horizonte, os números expõem maior equilíbrio, o que reflete o próprio cenário embaralhado daquelas eleições. Chama atenção, no entanto, como Guilherme Boulos (PSOL) dispara na característica “preocupado com os mais pobres”. Para 40% dos paulistanos, ele é quem mais defende a população de baixa renda.
O percentual é superior ao percentual de votos do psolista, que tem ficado entre 20% e 25% nas principais pesquisas.
Ainda na capital paulista, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem o melhor desempenho na característica “competente”, com 23%. Pablo Marçal (PRTB), por sua vez, destaca-se como “justo”, com 24%.
Já os eleitores da capital mineira consideram Mauro Tramonte (Republicanos) o mais justo e honesto — 30% e 21%, respectivamente — e Fuad Noman (PSD) o mais competente (22%).
Fonte: O Globo
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