O presidente Jair Bolsonaro fez valer o peso de sua caneta, como havia ameaçado, e demitiu nesta quinta-feira (16/04) Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde, após de um mês de embates sobre a melhor estratégia para o enfrentamento da pandemia de coronavírus.
Para o lugar dele, foi escolhido o oncologista e empresário Nelson Luiz Sperle Teich, que foi consultor informal de Bolsonaro para área de saúde durante a eleição de 2018.
Embora Teich defenda, assim como Mandetta, a política de isolamento social para conter o contágio da doença, o novo ministro chega no governo comprometido com a missão estabelecida pelo presidente de "gradativamente" possibilitar a retomada de atividades econômicas paralisadas pela quarentena de parte da população.
"Existe um alinhamento completo aqui, entre mim e o presidente, e todo o grupo do ministério, e que realmente o que a gente está aqui fazendo é trabalhar para que a sociedade retome cada vez mais rápido uma vida normal", disse em seu primeiro pronunciamento no comando da Saúde.
Para analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil, no entanto, Bolsonaro hoje é um presidente enfraquecido e seu governo não terá forças para ditar uma mudança de rumo na condução da crise.
Eles notam que, embora a troca de ministro pareça uma tentativa do presidente demonstrar poder e retomar protagonismo, concretamente a decisão sobre a paralisação de diversas atividades econômicas está nas mãos dos governadores, com respaldo do Supremo Tribunal Federal (STF) e das principais lideranças do Congresso Nacional.
Bolsonaro chegou a editar uma medida provisória (MP) lhe dando poderes para determinar quais seriam as atividades essenciais que não poderiam ser paralisadas por determinação de governadores e prefeitos, inclusive tentando liberar o funcionamento de casas lotéricas e igrejas em todo o país. No entanto, o STF declarou, na quinta-feira (17), inconstitucionais trechos dessa MP, garantindo aos governadores e prefeitos o poder de estabelecer regras de isolamento, fechamento do comércio e restrição de trânsito em rodovias.
"Permanece um cenário em que o presidente tem pouca capacidade de influenciar a política pública e coordenar os atores políticos", nota o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.
"Quando o Supremo reconhece a autonomia dos Estados no desenho de políticas públicas de combate à covid-19, ele limita o potencial de mudança que venha a partir da substituição no Ministério da Saúde", reforça.
O próprio presidente parece reconhecer seu poder limitado de influência ao se queixar mais uma vez de não ter sido ouvido por governadores e prefeitos antes de suas decisões. "Em nenhum momento eu fui consultado por medidas adotadas por grande parte dos governadores e prefeitos. Tenho certeza, eles sabiam o que estavam fazendo", criticou, ao anunciar o novo ministro.
FONTE: BBC News
Nenhum comentário:
Postar um comentário