domingo, 7 de julho de 2019

ESTIGMATIZADOS, por Carlos Lula


Na quietude do seu próprio mundo, eles se escondem. Silenciosos, reticentes, planejam continuar assim, sem serem descobertos, aliás, sem que seus corpos sejam expostos já que carregam na pele a marca de uma doença impiedosa. 

A hanseníase, tão antiga quanto o mundo, tira das pessoas a vida. Torna vergonhoso o prazer pelas interações sociais. A doença isola ou as pessoas isolam o doente. Há uma desumanidade em tudo, mas principalmente no preconceito e falta de empatia.

Na última semana aprendemos muito mais sobre humanidade por essas pessoas, que em todos os últimos anos lutando contra essa doença. O japonês Yohei Sasakawa, embaixador da Boa Vontade da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminação da hanseníase e presidente da Fundação Nippon esteve no Maranhão para conhecer nossas estratégias de eliminação da doença.

Sasakawa deixa claro em suas palavras e atitudes a razão do título tão honroso concedido pela OMS. Precisávamos que ele atravessasse o mundo para nos ensinar que há muito mais a enxergar na hanseníase, que não está ligado à assistência aos pacientes somente.

A doença deve ser erradicada porque é possível e, principalmente, por causa das pessoas discriminadas pela doença. Em 1965, Sasakawa foi impactado para agir na causa das pessoas com hanseníase após conhecer a discriminação contra elas na Coreia do Sul.

O impacto dessa visita ao Maranhão nos lançou a um desafio. Não apenas reduzir, mas eliminar a doença no estado com ações efetivas, utilizando a Força Estadual de Saúde, nos próximos três anos.

De fato, hoje, estamos entre os estados endêmicos para a doença. Por outro lado, as ações desenvolvidas pelas equipes das Secretarias de Estado da Saúde, junto com vários parceiros e municípios, têm garantido a constante queda de novos casos.

A nossa estratégia permanecerá na busca ativa que resulta na redução de novos casos por fonte de infecção. No entanto, neste momento, passaremos a fazer disto também um projeto de estado, que também inclui os municípios e seus profissionais de saúde.

Ao conhecer o Maranhão, nossas estratégias e envolvimento no combate a hanseníase, Sasakawa ficou admirado e acredita que seremos modelo para o mundo.

Talvez, ele nunca saiba como sua visita impactou nossas equipes e nossa política de saúde nesta área. Desta vez, aprendemos com ele, ser reconhecido no mundo não trará maior satisfação que salvar centenas e milhares da escuridão de suas vidas. 

Erradicar a hanseníase é eliminar o isolamento, desfazer de uma vez por todas as colônias de vidas oprimidas pela doença.

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