BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu nesta terça-feira, 4, que, com frequência, usa “expressões infelizes”, mas voltou a reclamar que suas falas são tiradas de contexto. Ele alegou, por exemplo, que foi mal interpretado quando disse que R$ 5 bilhões seriam suficientes para “aniquilar” a covid-19 no começo da pandemia.
“Foi tirado de contexto, lamento. Foi uma expressão ruim que usei para parabenizar parlamentares da oposição que se uniram no combate ao vírus. Eu, volta e meia, solto uma expressão infeliz, que é tirada de contexto. Se no dia seguinte fiz um diferimento de impostos de R$ 150 bilhões e na semana seguinte reduzimos compulsórios de R$ 200 bilhões, como eu ia falar que, com R$ 5 bilhões apenas, iríamos combater a pandemia? Gastamos 8,5% do PIB”, afirmou, em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Guedes também tentou explicar a fala de que todo brasileiro quer viver por 100 anos e que o Estado não teria capacidade para acompanhar o aumento da longevidade da população. “Tiraram totalmente do contexto. Eu estava justamente defendendo voucher e mais recursos para a Saúde. Não é só o rico que tem o direito de viver 100, 120 anos”, argumentou.
Em mais um bloco de perguntas dos deputados, parlamentares da oposição confrontaram o ministro sobre suas falas polêmicas e erros de projeção na pandemia, além da alta do dólar e dos preços de alimentos, combustíveis e do gás de cozinha. O valor menor do auxílio emergencial em 2021 também foi questionado pelos congressistas.
“Como o ministro gosta de dizer, o filho do porteiro é obrigado a sair para trabalhar enquanto ministro do governo trabalha virtualmente”, disse o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). Em tom jocoso, o deputado lembrou promessas de Guedes, como a de zerar o déficit ainda em 2019 e arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações. “A única promessa cumprida foi quando no início do governo vossa excelência disse que, se fizesse muita besteira, o dólar bateria R$ 4. O dólar de fato bateu R$ 4, vossa excelência fez muita besteira. Gostaria que vossa excelência explicasse o déficit na entrega de promessas”, completou o parlamentar. Na tarde desta terça, o dólar é cotado na casa dos R$ 5,42.
Guedes respondeu que o caso do porteiro aprovado em faculdade com nota zero é verdadeiro. “Falei de um caso real, do filho porteiro do meu prédio que foi aprovado com média zero, houve excesso. Você não pode dar empréstimo para alguém aprovado com nota zero, tem que dar um voucher. A política está cegando as pessoas, está tudo sendo deformado”, acrescentou. “O deputado Kim fala da promessa de zerar o déficit ignorando a pandemia. O Kim é jovem, não é grupo de risco, está sentado em casa ao invés de estar aqui no Congresso. Eu não estou em casa, estou no ministério”, rebateu.
Ainda em resposta ao deputado Kim, o ministro disse que não tem arrependimento nenhum sobre os gastos do governo na pandemia. “É insanidade questionar onde está meu liberalismo, estamos em guerra contra o vírus. Fiz promessas baseadas em acordos políticos, mas aprendi que política tem seu próprio timing. A reforma administrativa, por exemplo, travou no executivo”, acrescentou. “É negacionismo dizer que não entreguei nada, é política.”
O ministro tentou mais uma vez se explicar sobre falas polêmicas sobre empregadas domésticas (“que estavam indo para a Disney”) e sobre o filho do porteiro (“que entrou na faculdade com nota zero”). “A mãe do meu pai era empregada doméstica. Vergonha zero, ascensão social é assim. O meu pai não conseguiu fazer curso superior, trabalhou a vida inteira. Eu estudei em escolas públicas e já tive condições melhores de ascensão social. Foi um trabalho de quase três gerações”, afirmou.
Guedes repetiu que suas frases são sempre tiradas de contexto. “Quando dou esses exemplos, às vezes, vocês não podem tirar do contexto, ‘o Paulo Guedes falou do porteiro e da empregada doméstica', qual é o problema? Sempre falo num contexto produtivo. Eu consegui melhorar na vida por causa da educação, que é a chave da riqueza das nações, da competitividade das empresas e de uma vida melhor para o trabalhador.”
FONTE: Estadão

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