segunda-feira, 16 de junho de 2025

Representantes do Senado têm “aulas” sobre orçamento antes de audiência sobre emendas com Flávio Dino

 

Membros da Advocacia do Senado que vão participar da audiência pública sobre a impositividade e transparência das emendas parlamentares estão tendo “aulas” com os consultores de orçamento da Casa.

O foco é que os representantes do Senado cheguem afiados à audiência marcada sobre o tema pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino para 27 de junho.

Hoje, as dicas dos especialistas em orçamento do Senado aos integrantes da Advocacia estão debruçadas sobre a questão política, ou seja, a importância política das emendas para os parlamentares. Os advogados acreditam que a audiência terá vários embates e que é preciso estar preparados para dar respostas consistentes, mas evitando confrontos com STF.

O ministro Flávio Dino tem pressionado o Congresso. Além de marcar a audiência pública, o magistrado pediu explicações ao governo Lula e a parlamentares sobre as chamadas “emendas de comissão paralelas” e o direcionamento de verbas do Ministério da Saúde.

A audiência foi convocada para debater três ações em tramitação no STF que questionam mudanças feitas na Constituição nos últimos anos, especialmente sobre o uso do dinheiro público por meio das chamadas emendas parlamentares impositivas, como as “emendas Pix”, em que deputados e senadores indicam diretamente para onde vai uma parte do orçamento, sem passar pelo governo federal.

Essas ações foram apresentadas pelo PSOL, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Os processos apontam possíveis problemas nas regras criadas por várias emendas constitucionais entre 2015 e 2022, que alteraram o regime orçamentário nacional.

O debate no STF será dividido em três blocos de discussão, das 9h às 17h. O objetivo é reunir subsídios técnicos e jurídicos para embasar o julgamento das ações.

Entre os especialistas convidados por Flávio Dino, estão o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga; a professora de Finanças Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Élida Graziane Pinto e o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.

Também foram chamados representantes do Congresso Nacional, como Gabrielle Tatith Pereira, advogada-geral do Senado Federal; Hélio Martins Tollini, consultor de Orçamento aposentado da Câmara dos Deputados; Paulo Bijos, consultor de Orçamento da Câmara; e Hélder Rebouças, consultor de Orçamentos do Senado.

Veja a programação da audiência

Bloco 1

  • 09h – Abertura;
  • 09h15 – Tatiana Farah – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) (autor da ADI 7688);
  • 09h30 – Walfrido Jorge Warde Júnior e Rafael Ramires Araújo Valim – Advogados do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) (autor da ADI 7697);
  • 09h45 – Ingo Wolfgang Sarlet – Professor Titular de Direito Constitucional do Programa e Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS);
  • 10h – Élida Graziane Pinto – Professora de Finanças Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV);
  • 10h15 – Fernando Facury Scaff – Professor Titular de Direito Financeiro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP);
  • 10h30 – Marilda de Paula Silveira – Vice-Coordenadora-Geral do Transparência Eleitoral Brasil;
  • 10h45 – Heleno Taveira Torres – Professor Titular do Departamento de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP);
  • 11h – Gabrielle Tatith Pereira – Advogada-Geral do Senado Federal;
  • 11h15 – Felipe Scudeler Salto – Economista-chefe da Warren Investimentos;
  • 11h30 – Hélio Martins Tollini – Consultor de Orçamentos aposentado da Câmara dos Deputados;
  • 11h45 – Paulo Bijos – Consultor de Orçamento da Câmara dos Deputado;
  • 12h – Armínio Fraga Neto – Ex-presidente do Banco Central do Brasil.

Bloco 2

  • 12h30 – Deputados ou deputadas representando a Câmara dos Deputados;
  • 13h – Senadores ou senadoras representando o Senado Federal;
  • 13h30 – Ministros ou ministras representando o Poder Executivo;
  • 14h – Ministro representando o Tribunal de Contas da União;
  • 14h15 – Governador ou governadora representando o Fórum de Governadores;
  • 14h30 – Prefeito ou prefeita representando a Confederação Nacional de Municípios (CNM);
  • 14h45 – Prefeito ou prefeita representando a Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP).

Bloco 3

  • 15h15 – Luis Telesca e Roberto Livianu – Instituto Não Aceito Corrupção – INAC (amicus curiae);
  • 15h25 – Representante a definir – Partido Novo (amicus curiae);
  • 15h35 – Juliana Sakai – Transparência Brasil (amicus curiae);
  • 15h45 – Guilherme France – Transparência Internacional – BRASIL (amicus curiae);
  • 15h55 – Paula Carolina de Oliveira Azevedo da Mata – Observatório da Qualidade da Lei/UFMG (LEGISLab);
  • 16h05 – Renato Ramalho – Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (Anape);
  • 16h15 – Hélder Rebouças – Consultor de Orçamentos do Senado Federal;
  • 16h25 – Márcia Maria Barreta Fernandes Semer – Associação Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia (APD);
  • 16h35 – Igor Ferrer – Conselho Nacional de Fomento e Colaboração (Confoco);
  • 16h45 – Mayra Goulart da Silva – Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Laboratório de Partidos Eleições e Política Comparada (LAPPCOM);
  • 16h55 – Procuradoria-Geral da República (autora da ADI 7695);

Entenda as emendas parlamentares
Entre os mecanismos constitucionais que devem ser debatidos na audiência, estão as chamadas “emendas Pix” (transferências especiais individuais) – mecanismo revelado pelo Estadão que ganhou o apelido pelo dinheiro cair direto na conta das prefeituras e não ser passível de fiscalização por órgãos de controle.

Quando a regra foi aprovada, o Congresso não definiu a quem cabe fiscalizar o uso desses recursos. Além delas, as emendas com finalidade definida e as emendas de bancada também devem estar incluídas. Todas as emendas exigem que o Executivo federal execute os repasses conforme previsão orçamentária aprovada pelo Congresso, o que tem provocado intenso debate sobre seus impactos na governança pública.

O tema resulta em embates entre o Poder Executivo e o Legislativo desde o início do governo Lula. Desde o aumento do montante destinado pelos congressistas, durante o governo de Jair Bolsonaro, o presidente da República perdeu parte do poder que usava como manobra para garantir sua governabilidade.

Deputados e senadores passaram a cobrar a liberação dos recursos de forma cada vez mais enfática. Caso isso não ocorra, medidas do governo passam a ficar ameaçadas e o clima político no Congresso se deteriora ao nível em que qualquer mínimo projeto de interesse do Palácio do Planalto corre risco de ser barrado ou desfigurado.

O ministro Flávio Dino destacou que a discussão será técnica e se concentrará em aspectos constitucionais, sem abordar denúncias, casos de desvio de recursos ou improbidade administrativa. Segundo ele, o tema é de “inegável relevância do ponto de vista social, econômico e jurídico”.

Os principais pontos de controvérsia levantados nas ADIs incluem:

A compatibilidade das emendas impositivas com a cláusula pétrea da separação dos Poderes;

O alinhamento com os princípios constitucionais da eficiência, economicidade e planejamento na alocação orçamentária;

O impacto fiscal do crescimento contínuo dessas emendas;

A observância das regras de responsabilidade fiscal.

As ações sustentam que a execução obrigatória das emendas compromete a independência entre os Poderes, ao permitir que o Legislativo determine parte significativa dos gastos da União. O PSOL, por exemplo, argumenta que isso reduz a discricionariedade do Executivo, invertendo a lógica tradicional do sistema presidencialista.

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