terça-feira, 16 de abril de 2024

Investigação que motivou afastamento de Gabriela Hardt aponta parcialidade da juíza, explica advogado

 
                                     

Ex-titular da 13ª Vara de Curitiba e substituta do ex-juiz Sergio Moro, a juíza Gabriela Hardt foi afastada de suas atividades no Judiciário, nesta segunda-feira (15), por decisão do corregedor-nacional de Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, por supostamente burlar ordem processual, violar o código da magistratura e incorrer em prevaricação. Além da juíza, foram afastados por Salomão três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). 

A decisão do corregedor, tomada a partir da correição extraordinária na 13ª Vara Federal e que já foi encaminhada aos pares do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), dá conta de que a juíza admitiu ter discutido previamente decisões com integrantes da extinta operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) - o que é ilegal. Também são apontadas "violações ao dever funcional de prudência, separação dos poderes e ao código de ética da magistratura". 

Segundo o CNJ, entre outras irregularidades, Gabriela Hardt avalizou a criação da fundação Lava Jato abastecido com recursos da Petrobras com base em "informações incompletas e informais, fornecidas até mesmo fora dos autos pelos procuradores de Curitiba. Tal operação, que agora está sob investigação, é vista como semelhante a um esquema de 'cash back'"

Além disso, Salomão aponta que, em seus diálogos com procuradores da Lava Jato, a juíza teria incorrido em parcialidade, contaminando o processo judicial. O corregedor diz ser "inconcebível que a investigada possa prosseguir atuando, quando paira sobre ele a suspeita de que o seu atuar não seja o lídimo e imparcial agir a que se espera". 

Em entrevista à Fórum, o advogado Berlinque Cantelmo, especialista em ciências criminais, destrinchou a decisão de Salomão e ajudou a "traduzi-la". Ele explica que há suspeitas de que algumas decisões tomadas pela juíza em primeira instância, que foram mais tarde confirmadas em segunda instância, podem não ter sido completamente neutras ou justas.

Segundo Cantelmo, a investigação também está olhando para as relações entre a juíza e membros do MPF no âmbito da Lava Jato, gerando preocupação que esses relacionamentos possam ter comprometido a imparcialidade da juíza.

"A decisão do ministro Luiz Felipe Salomão chega ao CNJ com uma roupagem, com uma robustez maior em razão da aproximação de determinadas interpretações dadas às decisões de segunda instância que corroboraram decisões vacilantes proferidas pela juíza Gabriela Hardt em primeira instância. A questão que envolve, inclusive, a construção de fundos de gestão dos recursos apreendidos e bloqueados na operação Lava Jato por membros da suposta força-tarefa que compunham a época braços do Ministério Público, e que mantinham contatos constantes e subsequentes com a juíza, induzem a uma perspectiva de parcialidade", pontua o especialista. 

O advogado menciona ainda que uma possível quebra dos princípios de imparcialidade e neutralidade por parte da juíza podem levar a processos disciplinares adicionais, e algumas de suas ações podem até ser consideradas criminosas.

"A parte interessante dessa decisão, ainda que cautelar, é que de fato a interpretação dada a ela perpassa por um background, por um pano de fundo de convalidação da implementação do sistema acusatório no processo penal brasileiro. E isso nos passa uma mensagem de amplitude e de também sedimentação da perspectiva constitucional de recepção desse princípio que rechaça, que erradica, do ordenamento jurídico brasileiro o antigo sistema inquisitório e, na perspectiva de implementação do Estado Democrático de Direito, passa a, de fato, regular as relações entre partes processuais e magistrados, notadamente em processos criminais". 

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