Com nova identidade visual, peregrinação ampliada, itinerários inéditos, celebrações unem fé, história e cultura popular maranhense
A festa de São Pedro, em São Luís, é como o mar: muda sem deixar de ser o mesmo. Em 2025, o tradicional festejo da Comunidade de São Pedro, no bairro da Madre Deus, chegou mais cedo e com novidades que fazem da fé uma experiência ainda mais viva e participativa. Com o tema “Pedro, protetor, mostra-nos a esperança, qual âncora de nossas almas” (cf. Hb 6,19), a programação teve início, em maio, e se estende até o encerramento solene, no fim de junho, com eventos religiosos, culturais e marítimos.
Uma das principais mudanças, neste ano, está na ampliação da peregrinação da imagem peregrina, que começou no dia 20 de maio, antes mesmo do mês junino. “A procura aumentou muito, então abrimos mais datas e estendemos o roteiro para além da Madre Deus. Agora também, estamos visitando bairros, como Vila Embratel, Parque Amazonas e Península”, explica a coordenadora da festa, Kauana Barata.
A identidade visual também ganhou releitura marcante. Criada por artistas da comunidade em conjunto com a Paróquia São José e São Pantaleão, ela traz elementos que simbolizam São Pedro como figura de fé e humanidade: auréola respingada do mar, luz da alvorada e o olhar de pastor protetor. “A marca deste ano resgata o São Pedro das águas, do cais, das histórias que atravessam a cidade e os séculos”, define Kauana.
Itinerários inéditos e cultura fortalecida
Outra novidade é o roteiro diferente da carreata de abertura, que, neste ano passou pela beira-mar e pelo Cais da Praia Grande, símbolo forte da devoção marítima. O trajeto reverenciou a relação histórica do santo com o ofício da pesca e os antigos portos da capital.
A partir de 20 de junho, tem início o novenário, com o terço, às 18h, missas, às 19h e o animado “Largo Cultural de São Pedro”, logo após. “Durante os nove dias, teremos momentos de fé, venda de comidas típicas, rifa e o tradicional Concurso de Rainha Caipira das Princesas, com as crianças da comunidade”, lembra Kauana, destacando o envolvimento intergeracional na festa.
No dia 28 de junho, a imagem do santo sai da Igreja de São Pedro para ser enfeitada na Igreja São Roque, no bairro do Lira, onde começa a Procissão Luminosa, que segue até a Igreja de São Pedro. Na chegada, uma grande celebração com bumba meu boi e promesseiros toma a madrugada em canto, devoção e festa.
Devoção a São Pedro
Na manhã do dia 29, acontece a Procissão Marítima, um dos momentos mais esperados do festejo com concentração, a partir das 7h, na Rampa Campos Melo, na Praia Grande, e saída prevista para 8h, conforme a tábua de maré. Para Raimunda Machado Mota, São Pedro é o guardião do Céu, e sua devoção atravessa mais de 17 anos de fé e tradição. Todos os anos, ela participa da missa e da procissão e faz questão de adquirir a camisa oficial como forma de contribuir com o festejo. O momento que mais a emociona é ver São Pedro sendo ovacionado em alto-mar por uma multidão de fiéis, num espetáculo de fé que toca o coração. Para quem nunca participou, ela deixa um convite especial: “É um festejo grandioso, onde todos se reúnem — seja na terra, seja no mar — para homenagear um apóstolo de Jesus.”
Após o retorno da imagem à capela, a festa continua com a Procissão Terrestre pelas ruas da Madre Deus e a Missa de Encerramento, que celebra mais um ano de resistência e fé popular.
Para a Igreja Católica, São Pedro é o primeiro Papa e símbolo da fé sobre a qual Cristo edificou sua Igreja. No Maranhão, a devoção ao santo mistura religiosidade e cultura popular, com promessas, missas, procissões e apresentações de bumba meu boi e quadrilhas. “É uma cultura viva que representa o brilho do nosso estado”, afirma o padre Manoel Junior. O festejo também conta com apoio do Governo do Estado, segundo o secretário de Estado da Cultura, Yuri Arruda, a iniciativa é um momento em que a comunidade se reúne para reverenciar o santo e que os grupos juninos agradecem pela temporada: "Reforçamos o compromisso do Governo do Estado em manter viva a tradição e a cultura junina, nesta que chamamos de jornada de devoção e celebração que une tradição e espiritualidade no coração do maior São João do mundo! Que o Festejo de São Pedro seja um momento de renovação espiritual e cultural para todos". Outro apoiador de peso do Festejo este ano é o Sesc Maranhão, que, tradicionalmente, incentiva a cultura maranhense e, em 2025, ampliou sua atuação, potencializando a programação do “Largo Cultural de São Pedro”. Para Sandra Barata, a participação do Sesc fortalece ainda mais a festa: “O apoio do Sesc Maranhão é essencial para que possamos manter viva essa tradição tão significativa para o nosso povo,” enaltece Sandra.
Estrutura e tradição
A estrutura do festejo foi reforçada com palco, som, iluminação, segurança, banheiros químicos, barracas com comidas típicas, bombeiros civis, ambulância e estrutura de acessibilidade. “Estamos atentos à inclusão e à segurança de todos os devotos”, afirma a coordenadora. A organização é feita pela comunidade da Capela de São Pedro, com apoio da produtora cultural Sandra Barata, da Prefeitura de São Luís, Governo do Estado e Lei de Incentivo à Cultura.
Com mais de 80 anos de história, o festejo surgiu espontaneamente entre os pescadores e as brincadeiras de bumba meu boi que desembarcavam e embarcavam no antigo porto onde hoje está a Capela. “O mar chegava até lá. Era ali que a fé e a cultura se encontravam — e ainda se encontram”, afirma Kauana. A Igreja de São Pedro, que já está na sua terceira versão, tornou-se hoje um polo religioso ativo, com missas regulares e comunidade viva.
Programação por vir:
· 20 a 28/06 – Novenário (18h – oração / 19h – missa / Após: Largo Cultural de São Pedro e atrações culturais)
· 28/06 – Procissão Luminosa + Missa + festa cultural com grupos de bumba meu boi
· 29/06 – 7h: Concentração na Rampa Campos Melo (Praia Grande)
· 8h: Procissão Marítima
· 17h: Procissão Terrestre pelas ruas da Madre Deus
· Encerramento: Missa Festiva na Igreja de São Pedro Mais informações:
Você sabia?
A Capela de São Pedro foi erguida sobre um antigo porto onde grupos de bumba meu boi desembarcavam na capital. Ali mesmo, entre o cais e o altar, nascia a mistura de fé e cultura que deu origem ao festejo. Até hoje, o som das matracas ecoa onde antes encostavam as canoas.
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