A imprensa europeia destaca, nesta quarta-feira (25), as declarações do
presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, durante pronunciamento em cadeia
nacional de rádio e televisão realizado na noite de terça-feira (24).
Para os jornais, as declarações do líder da extrema direita do Brasil
são "incendiárias", "difíceis de acreditar" e vão de encontro com as
próprias recomendações do Ministério da Saúde do país.
Para o jornal francês Le Monde, o presidente "minimiza os
riscos relacionados à pandemia da Covid-19 ao criticar as medidas
tomadas em diversas cidades e Estados do país, em um momento em que um
terço da população mundial é colocada em confinamento".
O diário
também destaca que Bolsonaro acusou as mídias do país de propagar
"histeria", diante da pandemia que já causou mais de 18 mil mortos no
mundo. "O Brasil está protegido da doença, segundo ele, devido ao clima
quente e a população majoritariamente jovem", reitera a matéria.
O jornal Le Parisien
lembra que, no momento do discurso de Bolsonaro, o Brasil contabilizava
2.201 casos de coronavírus e 46 mortes. "Mas as deficiências do sistema
de saúde, além da pobreza e a insalubridade nas quais vivem uma grande
parte da população, ameaçam agravar a epidemia na primeira economia da
América Latina", afirma o diário.
Discurso resultou em "panelaços"
O jornal britânico The Guardian
destaca que o presidente brasileiro declarou que "nada sentiria" caso
fosse contaminado pela Covid-19. A matéria classifica as afirmações do
presidente como "incendiárias" e ressalta que o discurso provocou
grandes "panelaços" no Rio e em São Paulo.
The Guardian lembra que
as duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio e muitas outras em
todo o país, confinaram seus moradores "para salvar vidas". O jornal
também destaca que muitos opositores de Bolsonaro acreditam que sua
resposta à epidemia de coronavírus no Brasil "vai ser o fim de sua
carreira política".
Em editorial, o jornal espanhol El País
analisa como a América Latina lida com a pandemia e afirma que
Bolsonaro "é o pior caso" entre alguns líderes da região que tentam
minimizar a situação. Para o diário, o presidente está mais preocupado
com a briga política com os governadores de São Paulo e do Rio – estados
que concentram 60% dos casos de coronavirus do Brasil – do que com os
riscos da pandemia.
"E os riscos são gigantescos!", afirma o
editoralista. "As declarações oficiais de que o Brasil dispõe de
recursos suficientes para enfrentar esse tsunami são difíceis de
acreditar", reitera o artigo. Para El País, a situação
catastrófica de falta de material médico, hospitais e profissionais da
área da saúde que vivem atualmente a Europa e os Estados Unidos pode se
repetir no Brasil. "O vírus se comporta de maneira similar em todas as
latitudes", conclui.
Contra recomendações do Ministério da Saúde
Na live que faz diariamente em seu site, o jornal português Público
lembra que o apelo de Bolsonaro pela reabertura das escolas e o
restabelecimento do funcionamento do comércio contrariam as
recomendações do próprio governo brasileiro. "No site, o Ministério da
Saúde brasileiro aconselha a população a evitar aglomerações, a reduzir
os deslocamentos para o trabalho, defendendo o ‘trabalho remoto’ e a
‘antecipação de férias em instituições de ensino’, especialmente em
regiões com transmissão comunitária do vírus".
O jornal também
destaca que Bolsonaro subestima a pandemia, ao afirmar que se fosse
contaminado "não precisaria se preocupar". "O chefe de Estado do Brasil
já se submeteu a dois exames ao novo coronavírus, ambos de resultado
negativo, segundo o próprio. A imprensa pediu a divulgação pública dos
resultados, mas sem êxito", conclui o diário.
FONTE: RFI
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